Estava eu
vivendo minha vida em Galway e terminando minha escola de inglês. Eu teria mais 3 meses de visto pela frente e tinha que pensar rápido nos próximo passos.
Como desde
o início meu objetivo era reconhecer minha cidadania italiana para finalmente
ser livre na Europa, era hora de correr atrás.
Estava com
pouca grana e sabia que assim que
terminasse a escola eu poderia trabalhar em período integral sem distrações.
Lembre-se de que na Irlanda, com visto de estudante, você pode trabalhar em período integral por 6 meses.
O visto de
estudante funciona assim: se você paga por um curso de inglês de 6 meses, tem
direito a mais 6 meses de visto para
desfrutar suas férias.
Resolvi
trancar o curso no verão por 3 meses (tive essa opção oferecida pela escola)
para trabalhar. Me sobraram então os 3 meses restantes no final do curso. Era
essa a hora de economizar uma grana para reconhecer a tão sonhada cidadania européia.
Procurei
uma família para trabalhar como au pair, mas não queria sair da casa onde eu
vivia. Porém a vida...ah, a vida... me
empurrou de maneira rude. Conto aqui minha experiência com o primeiro
brasileiro que me sacaneou no exterior. Escrevo agora o que demorei muito para conseguir digerir. Na realidade demorei um ano e meio para finalmente falar sobre o ocorrido sem experimentar a violência de emoções que me perseguiu por um bom tempo.
Sabe quando
você se arrepende de não se impor no momento em que deveria? Quando alguém
tenta te derrubar e você, em estado de choque, não reaje?
Como contei
em post passado, eu morava com dois irlandese a um brasileiro. O brasileiro em
questão era um contramestre de capoeira goiano. Uma pessoa extremamente
rude e preconceituosa. Exemplo da mentalidade limitada do sujeito:
Estávamos participando de um processo
histórico na Irlanda. Era a época da decisão popular sobre a legalização do
casamento entre iguais. Sim, casamento gay. Era a hora do tão esperado SIM.
O brazileiro capoeirista, macho pacas, era contra o casamento gay e seu argumento era de um senso comum gritante. Segundo ele o
casamento gay nao é natural pois não existe na natureza. Tentei explicar em
vão que existe sim cópula entre seres do mesmo sexo na natureza selvagem, mas
foi como discutir com uma parede.
Este ser
nao saía de casa. Tinha um filho com uma irlandesa (por isso vivia legalmente
na Irlanda) e permanecia com seu filho no quarto por todo o fim de semana; algo
triste e estranho.
Ele vivia
me pressionando sobre a limpeza da casa e queria que os irlandeses fossem como
nós brasileiros: constantemente limpos e organizados.
Obviamente
que no final das contas, em 8 meses morando lá, quem limpou a casa fui eu. Tive ajuda de um dos irlandeses que fazia o melhor que ele podia,
mas quem fazia a limpeza pesada era euzinha. Claro, a única mulher no
meio do machismo empurrado goela abaixo há séculos pelas gargantas femininas.
Não me
incomodava em limpar, mas fazia questão de aproveitar a casa o tanto quanto eu
podia. Recebia amigos para jantar ou almoçar, tomar um café da tarde e, algumas
vezes, para passar a noite. Óbvio que eu limpava tudo depois...como sempre.
Os
irlandeses estavam felizes com o esquema instalado: eu limpando a casa e
nenhuma regra para seguir. Liberdade total para "todos nós".
Pois bem,
no final das contas, após 8 meses e uma conta de luz alta (algo super normal
durante um inverno inrlandes), um dos irlandeses veio me confrontar. O irlandes
em questão tinha 32 anos de idade e vivia com subsídio do governo pois nunca
se sentia bem o bastante para trabalhar. Mas bebia como um profissional. Para
isso ele tinha uma disposição invejável.
Resumindo, ele me confrontou dizendo que eu não limpava mais a casa como
deveria e que convidava amigos constantemente. Foi extremamente
estúpido e machista pra caramba.
Acabei
descobrindo depois que o brasileiro influenciou o menino pois nunca conseguiu me controlar. Sim, o machão capoeirista me queria na
rédea curta porque eu era mulher, tinha que limpar a casa e me comportar como uma moça.
O sujeito
conterrâneo nao teve coragem de me enfrentar, então envenenou a mente do já
não tão bom da cabeça irlandes para me dar um ultimato: ou segue as regras da
casa, ou sai fora. Porém a grande questão era....quais regras? A única regra da
casa era não ter regras.
Mas calma,
nem tudo era desgraça. Nesse meio tempo eu recebi uma proposta de uma
família irlandesa para me mudar para Inisheer (a menor ilha da
Irlanda), para cuidar de uma fofinha de 2 anos de idade que permanece nos meus
pensamentos até hoje.
Eu ainda
estava em dúvidas se iria para Inisheer para economizar grana e partir para
Itália, ou iria permanecer naquela casa e procurar um emprego melhor.
A vida
escolheu por mim, e escolheu o certo. Me deu um pé na bunda seguido de um
tropeção. Caí em Inisheer e tomei contato com a cultura irlandesa profunda.
Bem, posso
não ter me imposto na hora em que deveria, colocando o capoeirista machista no
lugar dele, mas meu caminho prosseguiu como deveria.
Escrevi
sobre o meu primeiro “tapa na cara” de um conterrâneo como forma de aviso. Nem
todos os brasileiros que vivem no exterior vão ser legais contigo e muito menos te
ajudar. Muitos irão tentar te derrubar de maneira sutil ou escancarada.
Este é um
relato que se encaixa na categoria “Nao faça o que eu fiz”, ou seja, não pense
que todo brasileiro é gente boa no exterior. Foi duro perceber que não se pode
“baixar a guarda” frente aos seus. De mim sempre emanam Paz e Amor, mas isso não significa que vou atrair
apenas pessoas bacanas. Nao é assim que a vida funciona.
"O maior erro que cometi foi acreditar que tecendo uma linda teia, eu iria atrair apenas coisas bonitas" |
Minhas experiências com capoeiristas até hoje foram todas antagônicas ... para não dizer ódio eterno. 1 ano do último post. Tem mais não? A da fixação por ilhas é muito pessoal? E a de como você conheceu o Miro? :D ... abraços.
ResponderExcluirOi Lucas! Estou retomando a narrativa. Já já tem texto novo...eeeeeeee! Puxão de orelha mais que merecido...rsrsrs.
ResponderExcluirMinha fixação por ilhas é algo psicológico. Sabe o ditado "Todo homem é uma ilha? Prefiro me manter afastada de grandes multidões, da loucura da vida moderna.
De como conheci o Miro, chegaremos lá. Tem muita água pra rolar ainda debaixo dessa ponte. Grande beijo, meu amigo!