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terça-feira, 31 de outubro de 2017

Morar Fora Não é um Conto de Fadas (Conhecendo os Seus Limites)

Antes de decidir o seu país de destino, considero importante pesquisar profundamente sobre os lugares que você escolheu como possíveis, e obter o máximo de informação que puder sobre cada um deles. Quanto mais informação tiver, mais você estará preparado para enfrentar o que virá pela frente.






 No meu caso, sempre pesquisei sobre a opinião de pessoas de diferentes nacionalidades em sites e blogs, mas meu primeiro passo hoje em dia é me inserir nos grupos de brasileiros do Facebook. Nada melhor do que conversar com pessoas da mesma cultura que a sua, pois estas já estão inseridas na realidade do pais em que vopretende viver.

Obviamente opinião é algo particular, sendo assim, cada um sente de maneira diferente a realidade na qual vive. Vo vai obter informações de pessoas que amam o lugar ou, se tiver sorte, que o odeiam.

Infelizmente é muito dificil encontrar informações  negativas na internet, pois a maioria das pessoas irá dizer apenas o quão são felizes e o quão são abençoadas por estarem vivendo aquela realidade, mesmo que essa não reflita a verdade em sua totalidade. Expressar sua insatisfação e frustração requer coragem.

Sempre digo que qualquer país tem seus pontos positivos e negativos, porem é preciso sim ter conhecimento dos pontos negativos para saber se voce conseguirá lidar com os mesmos. Para isso, em primeiro lugar, é importante conhecer nossos proprios limites. Um exemplo prático: a coleta de lixo em Malta é um sistema que não funciona por falta de estrutura.  Então, quando a ilha está lotada de turistas e estudantes no verão, vo vai se deparar com sacos de lixo nas ruas que, muitas vezes, estão expostos por dois dias ou mais. A quantidade tambem assusta. Para algumas pessoas isso é um limite a ser considerado. É importante dizer que, vivendo fora, você consegue flexibilizar os seus limites, mas existirão aqueles que estão cristalizados e que precisam ser respeitados. Respeitar os nossos limites é identificar quais conseguimos flexibilizar e quais não.

No meu caso, tenho muitos limites cristalizados e muitos que consegui manejar. Meu limite, por exemplo, é o engarrafamento. Vivi a maior parte da minha vida na cidade de São Paulo e tive a dose suficiente de engarrafamento da minha vida. Agora vivo em Malta que, para mim, é uma mini São Paulo completamente congestionada nos horários de pico. Ônibus lotados, um carro em média por cidadão, ruas estreitas. Pois bem, soube que Malta teria este problema antes de vir, mas não tinha idéia da gravidade da situação por não ter uma informação especifica na internet sobre o quão caótico é o esquema aqui.

Minha vida em Malta também me ensinou a pesquisar com muita atenção a legislação do país para ter conhecimento sobre meus direitos e assim poder garantí-los quando é preciso. Não importa se vo  é intercambista, cidadão europeu ou apenas turista; todos as pessoas tem direitos se viajam legalmente. 
 Conhecer as leis do país em que escolheu viver é fundamental, afinal, vo  será um cidadão pelo tempo que estiver ali.

Como morei um ano na Irlanda e outro na itália, e estou morando há seis meses em Malta, consegui identificar aspectos culturais semelhantes entre eles que considero negativos, e que me serviram como amadurecimento. São alguns deles: sexismo, higiene, xenofobia, humor, dentre outros.

Vo deve estar se perguntando: minha nossa! Essa garota está realmente desiludida com a Europa. Por que então ela não volta para o Brasil?”
Respondo o que já havia escrito anteriormente: meu intiuto é expor tudo aquilo que considero ruim para alertar meus conterrâneos. Informações bonitas e fofas a respeito dos países em que vivo e estou vivendo estão em todos os lugares, listadas inclusive (ex.:“10 Razões para Morar na Dinamarca”) – Bullshit!

Por isso também que presto um serviço de conscientização gratuita pois informações genuinamente honestas sobre os países me fizeram e ainda me fazem muita falta. Acredito que muitos sentem o mesmo.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Etnocentrismo X Relativismo Cultural (Processo de Adaptação a Uma Nova Realidade)

Antes de relatar sobre meu rolê insano pela Irlanda, considero importante falar um pouco sobre o processo de adaptação pelo qual eu passei. Espero que ajude.




Decidir sair do seu país de origem para se aventurar em outro continente, nao é nem de longe uma tarefa fácil. Voce irá lidar com culturas e sistemas completamente diferentes do seu, e vai ter que se adaptar.
Esse texto trata das dificuldades na adaptação por parte dos brasileiros, fenômeno que presenciei nos paises europeus onde morei e moro.
Vivi na Irlanda, Itália e agora vivo em Malta. Tive que me adaptar a sistemas completamente diferentes do meu, e diferentes também entre si. Por isso decidi explicar como estou conseguindo me adaptar através de um profundo aprendizado sobre mim mesma e sobre o lugar onde vivo.

O processo de adaptação requer calma.
 Precisei ter muita calma e respeitar o meu próprio tempo. Sim, cada um tem um tempo para processar uma nova cultura. O importante é estar aberto para isso. É atraves do contato com aquilo que é diferente que conseguimos identificar e compreender as nossas limitações. Compreendendo os seus limites, você irá perceber que alguns são flexíveis e outros não.  

Aprender a língua local.
Foi o primeiro passo e o mais importante no meu ponto de vista.  É vital aprender a língua falada no país e digo isso pois, por incrível que pareça, muitos brasileiros expatriados vivem há cinco ou dez anos inseridos em uma cultura diversa e se recusam a aprender a língua local. Como eles sobrevivem? Se relacionando somente com outros brasileiros, e trabalhando em subempregos onde eles podem se comunicar apenas com o básico da língua.

Modificar os hábitos alimentares.
Isso não quer dizer que aceitei todos os ingredientes que o país oferece. Tive oportunidade de provar e escolher ingredientes que fizeram e fazem parte da minha alimentação. Abri mao do arroz e feijão, da carne (muito cara na Europa), o famoso paio, etc. Abri mão da culinaria brasileira pois, além de ser dificil de encontrar os produtos, te pergunto: como você pode conhecer uma cultura sem estar de fato inserido nela? Precisei degustá-la, enfim, abraçar um novo estilo de vida. Vejo muitos brasileiros que ainda estão muito apegados aos produtos do nosso país e por isso pedem encomendas do Brasil ou viajam para outras cidade (caso da Irlanda) para conseguir tais produtos. Há casos de pessoas na Itália que levaram na bagagem quilos de feijão preto, paio (que saudade!) e linguiça. Estas foram pessoas que me disseram não conseguirem viver sem os produtos da culinária brasileira.
Se você nao consegue viver sem a culinaria brasileira, aconselho a não deixar o Brasil em hipótese alguma. Simples assim.
Estar apegado a sua própria cultura é oferecer resistência a novos desafios. Você limita suas experiências e sofre sem necessidade.


Compreender e aceitar o diferente.
Compreender que uma outra cultura é outra completamente diferente e aceitar as verdades alheias (realidades diferentes) foi o desafio que me exigiu maturidade e ainda hoje exige.  No início costumava comparar todos os hábitos, tradições, comportamentos com os do meu país. Sei que é inevitavel, tanto que faço isso até hoje. Mas entendo agora que comparar de uma maneira saudável é diferente de julgar. No início julguei muito mal o meu país. Sempre pensando que nós éramos atrasados e ignorantes demais como seres humanos, e mal educados como seres sociais.
Hoje penso apenas que somos atrasados historicamente, e que isso é natural visto que somos uma nação independente ainda muito nova. Somos diferentes.  Não pensem, como eu pensei no início, que os europeus são como “lords” ingleses que te reverenciam quando você passa na rua, respeitam seu espaço, ou pedem licença quando precisam passar. Isso é pura ilusão.  Logicamente cada país tem suas particularidades quando falamos em etiquetas sociais, mas tudo vai depender de pessoa para pessoa, de cada realidade. Já me deparei com irlandeses profundamente mal educados, assim como italianos muito bem educados por exemplo. Quem é melhor? Os italianos, os irlandeses, os malteses ou os brasileiros? Não existe melhor nem pior pois isso é apenas um jujgamento. Existe o diferente.    
O mais interessante nesse processo foi conseguir ser capaz de enxergar o Brasil de fora e, pela primeira vez na vida, experimentar um profundo sentimento de orgulho por ser brasileira. Os motivos são muitos.

Conhecer a legislação do país
Conhecer as leis do país de sua escolha antes de viajar vai facilitar muito a sua adaptação, pois você irá saber o que não deve fazer assim como quais são os seus direitos.  
Aprendi a importância dessa informacão após 2 anos morando fora, sendo que estou há quase três na estrada. Ou seja, demorou muito para a minha ficha cair.
Por exemplo, em Malta você nunca estará  seguro sem um contrato assinado. Aí você me pergunta: mas Tatiana, nao é assim que funciona em todos os lugares? Te respondo que não. Vou dar um exemplo prático. Se você procura um quarto para alugar em uma casa compartilhada na cidade de Galway - Irlanda (onde morei), você não vai precisar ter um contrato com o proprietário, pois este provavelmente já tem um assinado com o morador mais antigo. Isso significa que os irlandeses, em sua maioria, respeitam e muito as leis mesmo sem contratos firmados.
Isso acontece em Malta? Não. Em Malta, mesmo com contrato assinado e assinado por você e pelo proprietário, o cidadão vai tentar, na maioria dos casos, ferir o acordo firmado retendo o depósito que você pagou no primeiro mês. Mesmo constando no contrato, as leis em Malta não são respeitadas como deveriam ser, e isso é um aspécto cultural. Mas se acalme pois há como garantir os seus direitos. É só se manter o mais informado possível.

Por fim é importante termos em mente que estar inserido em uma nova cultura não significa necessariamente abdicar de suas raízes, ou substituir seu sentimento de pertencimento a cultura brasileira pelo sentimento de expatriado perdido no mundo. É apenas mergulhar naquilo que lhe é estranho para, enfim, promover o seu autoconhecimento.  Suas raízes serão as mesmas pois nossas origens, de onde viemos, é um fato imutável.

  


quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Do Fundo do Poço para o Mundo






Em 2014 vivi o que chamam de crise dos 30. Para mim essa crise é um sintoma social que ocorre quando você  chega na casa dos 30 e analisa a sua vida para saber se ela se encaixa nos moldes sociais do "sucesso". Foi então que eu constatei que nao tinha um carro próprio, uma casa própria, além de viver o inferno na Terra com um relacionamento amororoso de desamor que eu chamava de casamento, mesmo não sendo legalmente casada. Minhas amizades não eram sinceras e meu relacionamento familiar não estava indo lá muito bem.

Então o inevitável aconteceu: me separei de tudo o que fazia me sentir mal comigo mesma. Comecei a me respeitar e a exigir respeito, coisa que nunca fiz por medo de ficar sozinha. Quando comecei a me impor e, consequentemente, deixar de ser palhaça no circo dos outros, um fenômeno estranho aconteceu: absolutamente todas as pessoas desapareceram da minha vida.

Em nome do meu amor por mim me encontrei voltando a morar com a minha mãe e experimentei a solidão mais devoradora da minha vida. Nao cheguei a passar por essa fase completamente só, pois tive o vital apoio da minha querida psicóloga. Fiz terapia durante anos. 

Mesmo eu sendo uma amiga e companheira leal que se doou em todos os momentos pelos quais foi requisitada, não tive absolutamente nada disso de volta, nem um pouquinho e o pior: quando mais precisei.

Nessa história nao existe nenhuma vitima. Vivi do jeito que vivi por escolha minha. Mesmo podendo dizer "chega", eu permaneci em relacionamentos envenenados e caí num relacionamento "amoroso" psicologicamente abusivo de onde eu nao conseguia sair. Foi a primeira vez em que me apaixonei de verdade.

Após passar um ano cuidando dos cacos que me tornei tentando colar tudo de volta, minha vida não mudava. Eu continuava trabalhando e indo a terapia, só. Agora entendo que aquele foi o tempo necessário para me reconstruir das cinzas e me preparar para os próximos desafios da vida. Sabemos porém que a vida nao acontece como mágica e precisamos encontrar uma saída.

Meu primeiro passo, diante da inércia que acometia minha existência, foi me fazer a seguinte pergunta: quais são os meus sonhos? Tentei realizar o sonho que eu conhecia, que era encontrar o amor da minha vida e construir uma família só nossa. Mas, diante da minha tentativa e erro, decidi ir mais fundo e investigar como eu gostaria realmente de viver. Veja, eu já tinha perdido tudo e não tinha como ficar pior, pelo menos do meu ponto de vista naquele momento.

Me veio então a simples resposta que estava tão dentro de mim, que só consegui encontrar nos meus 30 e poucos anos: meu sonho sempre foi conhecer o Mundo.

Pensei: não tenho mais nada que me segure aqui no Brasil. Minha familia está aqui, mas cada um está vivendo a sua própria vida e construindo sua própria história. Além disso, tenho certeza que vão sobreviver muito bem sem mim.

Posso dizer que após um mês de muita pesquisa, arrumei minhas malas e me despachei. Parti para a Irlanda uma semana antes de completar 34 anos de idade.



Seja bem vindo! Por favor sente-se. O sofá está meio gasto mas garanto que é confortável.







Esse blog nasceu de uma necessidade gritante de falar sobre minhas  experiências fora do Brasil para dar uma sacudida nos preconceitos e medos dos futuros viajantes que pretendem deixar o país, não esquecendo daqueles que já moram fora. Tamo junto!

Decidir morar em outro país é se aventurar no desconhecido de corpo e alma, tudo com intensidade Duracell.

O tempo passa muito rápido aqui fora e a sua mente trabalha o dobro do que trabalhava antes.

Você vai se deparar com os seus limites, revisitar os medos que pensava ter superado e quebrar antigos conceitos que não cabem mais na sua visão de mundo, visão que se tornará mais ampla e, se você assim o permitir, modificada a cada passo que der.

Estamos num território diferente, com pessoas diferentes vivendo realidades diferentes e falando línguas diferentes.  Nossa casa está muito longe...ah, minha casa...

Mas antes de tudo vou expor os motivos que me fizeram sair do país. Cada um carrega uma bagagem nas costas e são essas bagagens, de diferentes cores e tamanhos, que vão influenciar cada escolha que fizermos.


Nota: Serei dura em alguns assuntos e suave em outros, dependendo da emoção que a lembraça me apresenta.

Sente-se confortável? Quer um cafézinho? Mas ó, não é brasileiro tá?

Por favor não repare na bagunça. A casa está meio despedaçada, mas garanto que é aconchegante.