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quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Do Fundo do Poço para o Mundo






Em 2014 vivi o que chamam de crise dos 30. Para mim essa crise é um sintoma social que ocorre quando você  chega na casa dos 30 e analisa a sua vida para saber se ela se encaixa nos moldes sociais do "sucesso". Foi então que eu constatei que nao tinha um carro próprio, uma casa própria, além de viver o inferno na Terra com um relacionamento amororoso de desamor que eu chamava de casamento, mesmo não sendo legalmente casada. Minhas amizades não eram sinceras e meu relacionamento familiar não estava indo lá muito bem.

Então o inevitável aconteceu: me separei de tudo o que fazia me sentir mal comigo mesma. Comecei a me respeitar e a exigir respeito, coisa que nunca fiz por medo de ficar sozinha. Quando comecei a me impor e, consequentemente, deixar de ser palhaça no circo dos outros, um fenômeno estranho aconteceu: absolutamente todas as pessoas desapareceram da minha vida.

Em nome do meu amor por mim me encontrei voltando a morar com a minha mãe e experimentei a solidão mais devoradora da minha vida. Nao cheguei a passar por essa fase completamente só, pois tive o vital apoio da minha querida psicóloga. Fiz terapia durante anos. 

Mesmo eu sendo uma amiga e companheira leal que se doou em todos os momentos pelos quais foi requisitada, não tive absolutamente nada disso de volta, nem um pouquinho e o pior: quando mais precisei.

Nessa história nao existe nenhuma vitima. Vivi do jeito que vivi por escolha minha. Mesmo podendo dizer "chega", eu permaneci em relacionamentos envenenados e caí num relacionamento "amoroso" psicologicamente abusivo de onde eu nao conseguia sair. Foi a primeira vez em que me apaixonei de verdade.

Após passar um ano cuidando dos cacos que me tornei tentando colar tudo de volta, minha vida não mudava. Eu continuava trabalhando e indo a terapia, só. Agora entendo que aquele foi o tempo necessário para me reconstruir das cinzas e me preparar para os próximos desafios da vida. Sabemos porém que a vida nao acontece como mágica e precisamos encontrar uma saída.

Meu primeiro passo, diante da inércia que acometia minha existência, foi me fazer a seguinte pergunta: quais são os meus sonhos? Tentei realizar o sonho que eu conhecia, que era encontrar o amor da minha vida e construir uma família só nossa. Mas, diante da minha tentativa e erro, decidi ir mais fundo e investigar como eu gostaria realmente de viver. Veja, eu já tinha perdido tudo e não tinha como ficar pior, pelo menos do meu ponto de vista naquele momento.

Me veio então a simples resposta que estava tão dentro de mim, que só consegui encontrar nos meus 30 e poucos anos: meu sonho sempre foi conhecer o Mundo.

Pensei: não tenho mais nada que me segure aqui no Brasil. Minha familia está aqui, mas cada um está vivendo a sua própria vida e construindo sua própria história. Além disso, tenho certeza que vão sobreviver muito bem sem mim.

Posso dizer que após um mês de muita pesquisa, arrumei minhas malas e me despachei. Parti para a Irlanda uma semana antes de completar 34 anos de idade.



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