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terça-feira, 28 de novembro de 2017

A Liberdade que me Tirou o Chão

O cafézinho está sem açúcar hoje, mas forte como sempre. 

Resolvi passar meu aniversário na Irlanda. Estava decidido, eu iria na primeira semana de abril rumo a minha primeira experiência "abroad". Que presentão, não é?

Cheguei uma semana antes do início das aulas de inglês. Estava eu morando na casa de uma senhora irlandesa longe do Centro da cidade. 
No meu terceiro dia resolvi me ambientar.  Após dormir bastante por causa da viagem que foi casativa, fui conhecer a escola de inglês que ficava no centro da cidade. Cheguei na recepção com minha empolgação de adolescente e meu inglês meia boca, e iniciei uma conversar com a recepcionista.  Para minha surpresa ela era italiana e falava português fluente.  Respirei aliviada e comecei a fazer perguntas sobre a escola. Quando vi, pedi para frequentar uma roda de conversas que acontecia toda quinta-feira após as aulas. A proposta era tomar chá com biscoitos e discutir um tema proposto pelo professor que estaria presente. Foi fantástico pois tive a oportunidade de testar o meu inglês e conhecer pessoas. 

Nessa mesma recepção conheci duas brasileiras que já me convidaram de cara para almoçar na casa de uma delas.
Foi então que percebi que as coisas estavam acontecendo naturalmente. Era só deixar rolar.

Conheci mais brasileiros e, naquele momento, não estava naquela paranóia delirante de só falar inglês. Eu tinha acabado de chegar e queria companhia, claro.

Minha semana de aula havia comecado e minha vida social também. Conheci espanhóis, italianos, japoneses, chineses, austríacos, alemães...de tudo um pouco.

Comecei a sair a noite também. Estava doida para conhecer os famosos pubs irlandeses que não me decepcionaram. Sao incríveis! A atmosfera é inebriante. Me senti adentrando um universo paralelo. Experimentei a famosa Guiness, of course, e amei. Amei também pelo preco pois é a cerveja mais barata servida nos pubs. Nao sei se ainda é assim, mas em 2015 custava 4 euros.

Conheci muita gente na noite pois no início eu saía sozinha. Descobri com o passar do tempo que a escola organizava um evento toda a quinta-feira a noite nos pubs e era chamado de “Pub Night”, onde os estudantes e professores podiam se conhecer melhor. Cada quinta era em um pub diferente.

Voltando para meu aniversário. Pensei que passaria sozinha, mas tive a companhia de duas brasileiras, aquelas que conheci na recepção da escola. Foi demais! Era uma terca-feira a noite e resolvemos ir no The King’s Head. Tem uma foto desse pub no post anterior.

Soprando a vela da minha Guinness no pub The King's Head


Agora vamos ao que interessa. A primeira vez que experimentei a sensação de liberdade total.
Era um dasqueles “Pub Night” da escola. Aquela quinta-feira prometia pois o evento aconteceria em um dos pubs mais badalados de Galway: The Quays. Com música ao vivo e tudo.

Foi lá que tive uma das noites mais incríveis da minha vida, e confesso que a Irlanda me proporcionou muitas noites assim. Foi demais! Conheci gente até da Austrália, o que nao é muito comum lá (pelo menos comigo). Fiquei até fechar, e quando fechou, as colegas brasileiras me levaram para o pub The Front Door, o único que ficava aberto até mais tarde.

Em Galway aos pubs fecham cedo, lá pela meia noite ou uma da manhã, mas o The Front Door é guerreiro, é aquele after que você reza pra ter em uma cidade pequena para não ter que terminar a noite tão cedo. Cedo...há! Eu tinha aula no dia seguinte e não estava nem um pouco preocupada.

Resumindo, cheguei no hostel onde estava morando às 10 da manhã do dia seguinte. 

Durante aquela semana eu estava sozinha no quarto do hostel pois o movimento estava lento. Quando cheguei já tendo a certeza de que eu faltaria pela primeira vez na aula, pensei: tenho que avisar que cheguei no Hostel. Mas para quem? Minha família estava do outro lado do mundo e a escola nao dava a mínima se eu estava lá ou nao. Um adendo importante: você nao pode faltar muito quando tem visto de estudante na Irlanda, viu? É perigoso porque a escola pode avisar a imigração que pode te deportar.

Voltando...estava eu em pé no meio do quarto quando caiu a ficha: eu não devia satisfação para absolutamente ninguém. Eu podia ir dormir sossegada. Nesse momento me caiu o chão. Experimentei uma total liberdade que vem junto com a sensação de que o chão te falta. Eu estava voando. A felicidade invadiu o recinto e fui dormir.  

Minha amiga espanhola e eu no Hostel onde morávamos.


   



segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Minha Vida de AuPair



Uma irlandesinha que adorava fazer arte.  



Ser AuPair na Europa é osso…duro de roer. Emocionante por um lado, mas extremamente solitário e puxado pelo outro.

Felizmente em lugares como Irlanda e Itália, as mães gostam muito de nós brasileiras pois somos cuidadosas e afetuosas. As mães européias são mais frias e não dão tanto colo, abraços e beijos quanto nós.

Penso que, inconscientemente, elas gostariam de demonstrar mais afeto, mas é muito difícil fazer isso visto que uma certa frieza é um traço cultural europeu. É também algo geracional  (passado de geração para geração). Se você não recebeu carinho na infância por nenhuma fonte de afeto, como pode oferecer algo que não lhe foi ensinado?

Ao contrário do Brasil, onde só a classe média a alta tem acesso a Aupair integral, é comum ter uma na Europa. A família pode nem ter dinheiro o suficiente para contratar uma, mas ela vai dar um jeito de ter uma ajuda de fora. Ou explorando as filipinas, como ocorre na Itália, ou oferecendo apenas um teto e alimento em troca do trabalho.

Infelizmente na Irlanda e na Itália o trabalho de Aupair não é reconhecido por lei.  Então cada familia te paga o que considera justo.

Porém, mesmo a Irlanda não legalizando o trabalho de Aupair, as famílias oferecem uma média de salário justa e quantidade de horas trabalhadas também justa. Claro que existem famílias, acredito que em todos os lugares, que vão tentar explorar a moça. Descobri por experiência própria que a gente deve dizer não a muitas coisas. Dizer não, por exemplo, a exploração da nossa mão de obra. 

Não sei quanto as outras alma rodadas, mas durante muito tempo me senti inferior na Europa, tanto que pensei que deveria aceitar ser explorada pois estava no que chamo de “casa dos outros”, ou seja,  em um outro país que estava me recebendo. Eu tinha era que agradecer por terem me deixado entrar. Pura bobagem! Se você está legal no país, tem todo o direito de exigir o respeito que lhe cabe. A gente tem que parar de se sentir inferior na Europa.  

Graças ao Universo esse complexo de inferioridade cultural já foi superado (há pouco tempo) e sempre quando posso aconselho as amigas aupairs a dizer NÃO.  Quando você resolve dizer não, pode ser que ouça a mãe da criança dizer: “mas a filipina lá cobra mais barato” ou” Infelizmente é o que posso pagar. É pegar ou largar”. Meninas, larguem! Existem muitas familias bacanas que vão te tratar muito bem, mas você precisa saber escolher.

No meu caso fui na loucura mesmo. Agarrei a primeira coisa que apareceu e dei sorte. Consegui pagar aluguel e me sustentar sem luxos trabalhando como Aupair "live out" de duas crianças pequenas.

Existem dois tipos de Aupair: live in (morando com a família) e live out (morando na sua própria casa).

Morar com a família, por incrível que pareça, é muito solitário. Eu particularmente prefiro morar no meu próprio lugar, onde posso receber os amigos e desfrutar a minha privacidade. Veja, você é uma pessoa estranha vivendo com uma família estranha e, mesmo que tenha um relacionamento fantástico com ela, isso não significa que você faz parte da mesma. É importante saber ser profissional e respeitar os momentos livres que eles desfrutam juntos. Por isso a família também deve respeitar o seu tempo livre.

É importante também dizer que Aupair é diferente de Babysitter. Aupair é a moca que trabalha horas fixas e cuida das crianças por muitas horas por semana. Babysitter é a moça contratada esporadicamente para olhar as crianças enquanto os pais estão fora. Costuma ser a noite.  

Mesmo eu sendo psicóloga e tendo trabalhado com criancas com autismo, nunca havia trocado uma fralda na vida ou acompanhado o desenvolvimento de uma criança comum de perto. Não uso a expressão  “criança normal” por questões ideológicas.

Entrei num desepero danado no início porque eu sabia que seria responsável por manter um bebê de 7 meses e uma criança de 2 anos de idade vivos durante 8 horas, todos os dias.

Tenha em mente que trabalhar como Aupair é basicamente isso: ser responsável pela sobrevivência dos pequenos na ausência da mãe. No início minha mente estava a mil, tanto que até rezei, coisa que não costumo fazer.

Ocupei o lugar de uma brasileira bacana que me ensinou a trocar fraldas e me contou as verdades do trabalho, sem me esconder nada. Não vá pensando que as Aupairs tem um comprometimento com a categoria alertando as colegas em relação a péssimas experiências com famílias problemáticas. Na Itália, por exemplo, entrei em uma roubada monstra porque confiei na colega que me treinou. Fui também enganada por uma brasileira na Itália que cuidava de um senhor idoso completamente maluco. Acabei a subistituindo por 10 dias e paguei pela minha ingenuidade vivendo o inferno na Terra.

Gostaria de alertar as meninas sobre duas coisas importantes. Primeira, desconfiem das Aupairs que estão tentando passar a vaga. Frequentemente a desculpa utilizada por elas é  que precisa voltar para casa por motivo de emergência familiar. Desconfie porque, convenhamos, trabalho bom a gente não larga. 

Claro que contratempos podem ocorrer e emergências familiares também. Minha primeira experiência como aupair por exemplo foi substituindo uma brasileira que não estava feliz no trabalho. Isso pode acontecer e é super normal, mas nunca confie em alguém que diga que trabalhar com aquela familia é incrível e que não há nenhum problema. Mentira. Quando o assunto é relacionamento entre seres humanos, problemas fazem parte do pacote.

Por gentileza, em vez de sair na loucura como eu que aceitei qualquer parada, seja uma Aupair consciente. Registre-se nos sites mais confiáveis e escolha com muito cuidado a família. Converse com muitas, seja sincera sempre e faça pelo menos uma ligação via Skype com toda a família reunida. O mais importante de tudo: confie na sua intuição sempre.

A sinceridade da nossa parte é muito importante pois se mentirmos para a mãe da criança, teremos que manter a mentira por tempo indeterminado e, um dia, a casa cai. Um exemplo:  se você fuma diga para a família a verdade. A maioria pede Aupair não fumante, mas há sempre um jeito de negociar. Se mesmo assim a família nao aceitar, parta para outra. Tem uma porção de gente precisando de uma Aupair.

Esse trabalho também é bem interessante para quem quer de fato aprender uma nova língua.  Você vai aprender a falar com as crianças e elas adoram ensinar. Tanto na Itália quanto na Irlanda as crianças nunca criticaram o meu inglês ou o meu italiano, super capengas na época. Essa foi uma das  partes fofas dessa experiência.

É um trabalho que requer esforço físico e psicológico. Cuidar de criança não é fácil e é por isso que as mães nos contratam.

Outra coisa, nunca mas nunca deixem uma crianca te agredir fisicamente ou te desrespeitar de qualquer forma. Fale com a mãe abertamente sobre qualquer incidente que te incomode e deixe claro que você está ali para cuidar da criança enquanto a mãe trabalha, e não para educá-la.

Você vai aprender a cuidar e a compreender esses pequenos seres. Crianças são incríveis, mas devoram tua alma quando resolvem causar. Não precisa ser psicóloga para ter jogo de cintura. Tente se abrir para adentrar o Universo da criança que agora faz parte da sua vida pois, se você assim o permitir, esta irá despertar a criança interior que estava adormecida em ti.

 
Mocinho irlandes que é puro encanto. 

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

This is Galway



Os países são também diferentes em relação ao cheiro. Há um odor inebriante característico em cada lugar. Quando me lembro dos países onde morei, me recordo do odor que pensei ter esquecido.

Lembro-me ainda do cheiro da primeira casa onde me hospedei na Irlanda, de uma senhora que morava sozinha. Era algo que fazia me sentir acolhida. Cheiro de casa de avó irlandesa.

Sempre fui fixada em cheiros, então pesquisei antes de viajar como o cheiro da Irlanda era descrito pelas pessoas. Alguém descreveu que era a mistura de maresia com casa de avó. Quando cheguei, entendi. Era isso mesmo.

Cheguei  em Galway no final de março de 2015, e estava frio. Não adianta, a Europa é um lugar frio para mim. O verão é uma delícia, mas o inverno é cruel.

Nunca vi neve em toda a minha vida. Quando comecei a conversar com os gringos, eu disse isso a eles. Disse novamente na Itália e também em Malta. Em todas as situações, as pessoas ficaram absolutamente perplexas. Resolvi então parar de expor essa informação para não me sentir mais alienígena do que eu já me sentia. Claro que eu estava esperando ver neve na Irlanda. Nunca fui muito boa em Geografia, por isso eu associava automaticamente Europa com neve. Bem...dancei porque nao há neve na irlanda, mas chove a beça.

Optei por morar em Galway, a segunda ou terceira (ou quarta) maior cidade da Irlanda que está localizada na costa oeste do país. Nunca gostei de grandes cidades e sempre apreciei o mar, então pensei: por que ir para Dublin se eu poderia escolher outro destino?

Mas eu também não queria um lugar sossegado demais com nativos apenas. Eu queria conhecer outras nacionalidades. Gente jovem. Escolhi Galway pois me oferecia tudo o que eu queria na época: morar a beira-mar e me relacionar com gente jovem do mundo todo que estava ali para estudar nas Universidades. Sim, Galway, além de ter sido escolhida como capital cultural européia de 2020, é uma cidade universitária.


Morei em um quarteirão onde todas as casas eram absolutamente iguais. A coleta de lixo é extremamente organizada pois você encontra latas de lixo de cores diferentes em frente a cada casa para a separação adequada. Sinto muita falta disso.

O centro de Galway é pequeno e cortado por ruas, todas cheias de novidades. Há um pub em cada esquina o que faz com que seja possível fazer um lance incrível, mas meio punk chamado “Pub Crawl”. Trata-se de um tour de uma noite pelos pubs da cidade, ou só do centro mesmo, onde você bebe uma “pint” (um copo de 500 ml de cerveja) em cada pub até pedir penico. Nunca fui muito boa nesse lance de pub crawl porque sempre pedia arrego no terceiro pub. Claro, se você opta por Guinness, vai perceber que consegue beber, no máximo, 3 “pints” em uma noite. A capacidade alcoólica depende de cada um, mas aqui vai um conselho de um amigo querido meu, um brasileiro que viajou durante anos pela Europa (de bike, se não me engano). Na realidade esse amigo me ajudou muito com informações valiosíssimas que carrego até hoje.  Aqui vai o conselho: nunca, mas nunca mesmo tente beber igual a um irlandês porque, com certeza, você vai acabar vomitando. E é isso mesmo! Tentei acompanhar algumas irlandesas e fiquei para trás. Essas minas são fortes, admito e as admiro.



Galway é uma cidade muito bonita e cheia de eventos culturais no verão. Tem uma rua onde apenas pedestres são permitidos e é o point de Galway. É onde estão localizados os pubs mais interessantes, na minha opinião, e está repleta de músicos muito bons fazendo suas gigs. É uma cidade que respira cultura.


Um fato interessante: os músicos mostram sua arte na Shop Street e muitos são convidados a se apresentar nos pubs locais. Sim, os pubs tem música ao vivo, o que é fantástico.

Em alguns pubs mais tradicionais há uma roda de músicos em volta de uma mesa tocando músicas tradicionais irlandesas, e isso acontece frequentemente. Sabe a roda de samba no bar do seu Zé? Então, existe a versão irlandesa. 😊

 Se você pretende ir a Irlanda, não deixe de ter essa experiênca emocionante. A música irlandesa é poderosa.



Há uma pagina no Facebook que sigo até hoje chamada “This is Galway”. É interessante para quem gostaria de saber mais sobre a cidade:



terça-feira, 14 de novembro de 2017

A Finitude Inevitável da Vida

Quando decidi escrever esse blog, pensei em contar minhas histórias insanas de uma naneira cronológica, mas percebi que tenho tanta coisa pra contar, inclusive eventos atuais, que minha mente está um caos. Pode ser a idade, ou a quantidade de tretas nas quais me meti. Vai saber. Por isso, hoje, vou colocar um pouco de whiskey no meu café.


Vamos falar um pouco da frustração de perceber que não sou uma viajante como eu pensava, mas apenas uma pessoa perdida pelo mundo que está tentando se encontrar.

Outra alma rodada que conheci na Irlanda costumava me dizer que a Irlanda é o lugar onde os perdidos se encontram. Hoje percebo que não se trata só da Irlanda, ou Itália, ou Malta. Trata-se do fato de largar tudo e todos e fugir para um continente distante, povoado pelos mais diversos tipos de aliens que, como eu, não se encaixam em lugar nenhum.

É fofo conhecer pessoas que encontraram o seu país preferido e se sentem parte da sociedade. Não sei ao certo se isso é fingimento ou a pura verdade. Espero que seja verdade pois todos merecem a felicidade.

Ok, de repente eu não consegui ainda explorar esse continente direito, quanto mais o Mundo, mas eu esperava pelo menos ter uma idéia do tipo de ambiente que tem a ver comigo. Me pergunto todos os dias se me encontro no continente errado, ou ainda é cedo para encontrar o meu lar definitivo. O problema em relação ao tempo é a paciência da espera. É quando você sente o tempo passar rápido e não tem nenhum controle sobre isso.

Aos 30 anos de idade é possível compreender e medir o passar do tempo. É mais ou menos assim: você  sabe quanto tempo é 30 anos. Mesmo que não se lembre da sua primeira infância é possível ter uma ideia de como a vida é curta.

Ok, a vida é curta, e isso quer dizer que daqui há 30 anos terei 60 e não poderei usar o meu corpo como uso hoje. Não terei os ossos fortes o suficiente para andar uma noite inteira por Roma conversando com um amigo. Não adianta, envelhecer assusta sim e é normal. Queremos ser jovens para sempre, não pela beleza da juventude, mas pela saúde que temos enquanto somos jovens. 

Algumas pessoas se incomodam quando me preocupo com o passar do tempo e estão sempre me dizendo que preciso esquecer disso e seguir vivendo, que não preciso me preocupar com isso pois ainda sou muito jovem.

O grande lance é que esse assunto incomoda pois te coloca frente a frente com a finitude inevitável da vida. E quando se preocupa com a finitude, você tem pressa em ser feliz.

Estou discorrendo sobre essa viagem mental sem fim porque é isso o que me move.

Tres países em quase 3 anos é muita loucura!


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

É Tropeçando que a Vida Vai

Hoje o cafézinho vai ser um pouco forte. Exagerei no pó. Só te peço, por favor, para não chutar o gato.


Cliffs of Moher - Irlanda




O início de tudo

Quando cheguei na Irlanda, eu sabia que teria que trabalhar o mais rápido possível. Mesmo tendo a quantia de € 3.000,00 obrigatória para o visto de estudante, eu sabia que esse dinheiro nãseria eterno, mesmo sendo o suficiente para mais de 4 meses na ilha.
Resolvi pagar acomodação em casa de host family (irlandeses que oferecem um quarto em suas casas para estudantes) por um período de uma semana. Após esse período, eu tive que me virar.

Hoje sei o que eu não sabia na época. Que é possível e mais prudente se mudar para um hostel perto da escola de Inglês onde você vai estudar.

Sobre agências de intercâmbio, elas facilitam alguns trâmites, mas saiba que é possível e mais barato fazer tudo sozinho. Vi muitos brasileiros que resolveram fazer através de agência. Alguns até pagaram acomodação pelo período de todo o intercâmbio. Se você tem dinheiro para gastar, essa é a maneira mais confortável e segura de viver um intercâmbio, porém está longe de proporcionar as aventuras que essa experiência oferece.
Tive um orçamento limitado, então morei durante um mês em um hostel do lado da minha escola enquanto procurava um quarto para alugar.

O mês em que morei no hostel foi um dos períodos mais mágicos da minha vida pois pude conhecer gente de outros países, exercitar o meu inglês e dividir quarto com pessoas que nunca vi na vida. Outro aspecto interessante de morar em um hostel é o custo. Você terá energia elétrica, água, internet e, se tiver sorte, café da manhã todos os dias por um valor que equivale a um aluguel mensal de um quarto (sem contas inclusas). Claro que privacidade não há, mas tente estar aberto a esse tipo de aventura. Vale a pena. Quando encontrar um lugar bacana para alugar, aí então terá a sua privacidade.

Algo que aprendi como intercambista foi que não é necessário pagar por agência de intercâmbio, mesmo que você seja um iniciante na arte de viajar. Há possibilidades de fechar um pacote diretamente com a escola e ir direto para um hostel. Esse processo irá te economizar um belo montante.


Como consigo fechar um pacote com uma escola de inglês se não compreendo outra língua?

Veja, as escolas no mundo todo estão preparadas para esse tipo de demanda. Mesmo que vo não domine a língua é possível escrever um e-mail com a ajuda do google tradutor, ou daquele primo distante que manja um pouco mais que você. Escreva para três ou mais escolas, tire todas as suas dúvidas e compare. 

No meu caso, em todo o processo que vivi antes e depois de partir, contei com a vital ajuda da minha intuição. Confie nos seus instintos. A intuição é aquela vozinha lá no fundo que costuma ter um volume um pouco baixo (por isso é difícil de escutar). É ela que vai te auxiliar nas suas escolhas e até mesmo salvar a sua vida.

Não se esqueça  de que viver uma experiência “abroad” é um processo solitário. Mesmo criando fortes laços de amizade, você será a única pessoa responsável pelas suas escolhas, e a única que sofrerá as consequências das mesmas.

Isso não é ruim, de jeito nenhum, pois é assim que aprendemos a viver sozinhos nessa selva que chamamos de mundo, com total independência.    


Mas como vou saber se a escola é boa?

Não se esqueça de entrar nos grupos de brasileiros (Facebook) do país no qual você pretende estudar inglês, ou outra língua de sua escolha. Me refiro sempre ao inglês nesse post pois condiz com a minha experiência.  

Entre em contato com as pessoas e saiba dos pontos positivos e negativos que cada uma tem a expor.

Tive muita sorte pois, mesmo não estando muito interessada na qualidade da escola, estudei em uma ótima. Não me esqueço das incríveis aulas que tive com profissionais interessados em ensinar. Uma dica? Escolha uma escola onde a maioria dos profissionais está lá pelo prazer de ensinar.  



Ok, iniciei a Escola e já aluguei um quarto. Agora preciso de um emprego.

Antes de pensar em arranjar um emprego tenha a certeza de que o visto de estudante lhe permite trabalhar no país. Sim, tem um monte de gente em todos os lugares que está trabalhando ilegalmente, portanto, vivendo ilegalmente. Não aconselho, de forma alguma, tentar esse estilo de vida por algumas razões. Primeira delas, você não terá os seus direitos garantidos por lei. Se lembra quando escrevi alguns posts atrás sobre a importância de conhecer a legislação do país para ter os seus direitos garantidos? Se você resolver trabalhar ilegalmente nao poderá, por exemplo, reclamar para ninguém se o teu chefe decidir não te pagar pelas horas trabalhadas. Isso pode acontecer.

Nem preciso dizer a principal razão, certo? Se você for pego pela Imigração, ganhará um beijinho no rosto e tchau (mentira, sem beijinho). E vamos combinar: ilegal significa ILEGAL.

Muito bem. Você já pesquisou e está seguro de que pode trabalhar no período do seu visto. Bacana, mas então você realizou que ainda não fala inglês e agora está entrando em total desespero.

Pode se acalmar porque é possível aprender o inglês trabalhando em alguns setores como o de Au Pair (babysitter) para as meninas, e o de Kitchen Porter (ajudante de cozinha) para os meninos, por exemplo. Repare que estou escrevendo sobre a Irlanda agora, portanto o tipo de emprego pode variar de país para país, e de cidade para cidade.

Antes de se perguntar por que ajudante de cozinha é só para meninos e babysitter é  só para meninas, lembre-se do meu post anterior onde escrevi sobre o sexismo. Infelizmente a visão dos irlandeses é de que as mulheres não aguentam o trabalho pesado do ajudante de cozinha, e os homens não são muito capazes de cuidar de  uma criança.

Então, meu primeiro emprego após dois meses na ilha foi como AuPair.

Uma dica sobre aprender inglês o mais rápido possível. Tenha em mente que você não aprenderá rápido se insistir em falar português todos os dias. Não vai rolar.

Eu me encontrava com brasileiros durante os finais de semana, mas trabalhava falando inglês e me dedicava aos estudos. Fiz a escolha de morar apenas com irlandeses para adquirir maior conhecimento em relação a cultura, e me obrigar a falar inglês todos os dias.
Bom, na realidade morei com dois irlandeses e um brasileiros que...affe...me deu muito trabalho (material para um outro post), mas tive contato de verdade apenas com os irlandeses da casa.

Isso tudo parece um bicho de sete cabeças, mas acredite: nao é. As coisas vão acontecendo quando a gente corre atrás e tudo vai se encaixando aos poucos. A gente vai se adaptando e a vida se delineando.


Respire fundo e borá lá! 

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Por que Escolhi a Irlanda como Primeiro Destino?



Tomando um cafezinho na frente da casa onde morei - Galway (Irlanda). 


Como eu não tinha passaporte europeu e precisava viajar legalmente (Gente, pelo amor do Senhor! Façam tudo legalmente. Respeitem as leis!), decidi fazer intercâmbio. Me achei meio ridícula sendo intercambista aos 34 anos de idade, mas esse sentimento já passou. Viver fora abre os seus horizontes e te faz repensar sobre os seus antigos preconceitos, que nada mais são do que pura ignorância. Hoje sei que nunca é tarde para começar um projeto. Óbvio que me senti estranha convivendo com pessoas nos seus 20 e poucos anos de idade, mas me diverti muito pois tive a oportunidade de viver a minha fase adolescente, a qual não vivi no momento adequado.

Me envolvi em fofocas, picuinhas infantis, bebi até cair. Me apaixonei todos os dias e vivia ainda a visão romantizada da amizade mútua. Eu sabia que estava sendo imatura mas, por incrível que pareça, não me senti culpada em nenhum momento. Minto, na realidade me senti culpada por não me sentir culpada. Muito doido isso.

Me lembro do primeiro dia em que senti a liberdade em sua totalidade e isso me fez perder o chão, mas esse é um assunto para um próximo café neste meu sofá arranhado.

Decidi então fazer intercâmbio pois nunca tinha vivido em um outro país, além de não falar uma segunda língua. Eu estava petrificada de medo.

Ok, o tipo de visto estava decidido. Próximo passo, escolher o destino.
Eu tinha 3 opções: Irlanda, Nova Zelândia e Austrália. Quebrei muito a cabeça para tomar a decisão acertada. Pesquisei bastante sobre o clima do lugar, sobre o tipo de lugar (praia, montanha, cidade) e  o mais importante: a maior concentração de gente jovem. Escolhi praia, gente jovem e o clima não importava no momento.

Eu estava morrendo de medo de ir para um lugar com maior concentração de pessoas acima dos 50 anos de idade. A gente sempre ouve falar que a Europa é um continente com mais pessoas idosas do que jovens, e eu não estava nem um pouco disposta a ir para um lugar muito quieto e pacato.  Eu queria era intensidade na experiência.

Sempre optei pelas ilhas, tanto que morei na irlanda, Inisheer (a menor ilha da Irlanda) e agora moro em Malta. Claro que agora sei por que tenho essa fixação por ilhas, mas isso é uma informação muito pessoal que não será compartilhada no momento 😉.

Por ter essa fixação por ilhas, fiquei entre Nova Zelândia e Irlanda. Optei pela Irlanda pois eu precisava ficar perto da Itália para realizar um dos meus maiores sonhos de liberdade: o passaporte europeu.

Já estava decidido, na totalidade do meu ser, que eu iria para não mais voltar. Como eu tinha o direito a cidadania italiana, eu tinha que estar por perto. Se não fosse por isso, eu teria escolhido a Nova Zelândia, pois é a ponte para a Ásia. Vamos combinar, quem não quer conhecer a Ásia, não é?  

Muito bem, o lugar e o visto estavam decididos.

Chegou o dia de partir.   



sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Welcome to the Jungle - Bem Vindos a Selva

Viver a realidade de um país diferente é como tomar muitos tapas na cara, um após o outro, mas como todo ser humano, você se adapta. Desconfie de pessoas que escrevem que nunca tiveram problemas, e que sempre tiveram sorte pois se adaptaram numa boa, sem esforço algum. São seres que vivem postando fotos com um sorriso de orelha a orelha o tempo todo, mas que na verdade estão lutando de uma maneira surreal para sobreviver no exterior.

No post anterior mencionei alguns aspectos europeus negativos. Neste post vou explicar um pouco sobre aqueles os quais considero serem os principais. Lembrando sempre que esse é o meu ponto de vista.  



Essa foto foi postada por um perfil fictício no Grupo "Expats Malta" (Expatriados em Malta) com a seguinte legenda: "O melhor comentário ganha!!!". Dezenas de pessoas participaram da "brincadeira" e a consideraram muito engraçada. Lembrando que este grupo está cheio de malteses. Belo exemplo prático de Xenofobia em Malta.



Xenofobia

Por definição, xenofobia significa ”a aversão aos estrangeiros ou ao que vem do estrangeiro, ao que é estranho ou menos comum.” A Europa em geral tem essa característica. Voce pode sentir a xenofobia de maneira sutil, como na Irlanda, ou de maneira escancarada como em Malta e na Itália.
Infelizmente, em Malta, alguns nativos fomentam o discurso de ódio em páginas do Facebook, expressam seu preconceito velado em conversas numa mesa de bar com você, que é expatriado, e também na maneira como te olham quando você diz que nasceu na América do Sul. Mas a maior aversão que alguns malteses sentem, e quando digo alguns me refiro a uma parte expressiva da população, é em relação aos refugiados de Guerra e as pessoas que emigram da África buscando melhores oportunidades. É algo cruel. Presenciei uma vez, no ônibus, um motorista fechando as portas para uma mulher que usava o hijad (véu muculmano) e seu bebê que estava no carrinho enquando esta estava tantando descer no ponto. O motorista simplesmente fechou a porta enquanto ela estava descendo, deixando a crianca em seu carrinho presa. Não contente, ele repetiu o procedimento e quando a mulher, com razão, comecou a gritar com ele, completamente revoltada, ele simplesmente se virou e disse “get out, now!”. Chocante, não?
Por outro lado, na Italia e na Irlanda, a xenofobia é expressada na forma de superioridade. Irlandeses e italianos tem uma postura de superioridade em relação aos estrangeiros não europeus e isso é histórico. Nao se esquecam que os europeus são ainda acostumados a serem servidos por povos considerados inferiores por eles. Vivi isso na pele trabalhando como au pair na Itália e Irlanda. Mesmo tendo curso superior em Psicologia e experiência na área de Desenvolvimento Infantil, eu fui explorada e tratada como um lixo de luxo: uma serva com atributos.

Higiene

Sim, como boa brasileira sinto falta da limpeza impecável que fazemos em nossas casas. Mesmo que você decida alugar uma casa em boas condições, vai se deparar com sujeiras que estão por lá há anos. As casas tem uma certa aparência de encardidas. O mofo tambem é presente, mesmo nas casas com calefação. Sempre morei em casas e apartamentos com alguma parede mofada. De repente não dei sorte. O grande desafio é dividir casa com outros europeus. As panelas nunca estão limpas o suficiente, aliás nenhum utensílio de cozinha na realidade. Inúmeras vezes tive que comprar meus próprios utensílios para garantir a higiene dos mesmos.
Sobre o hábito de tomar banho, nem preciso dizer, não é?

Sexismo

Antes de decidir me mudar para a Europa, minha mãe, abismada, me perguntou: “Minha filha, como uma pessoa tão feminista quanto você decidiu morar num dos continentes mais sexistas do mundo?”. Pergunta pertinente naquele momento. Pensei a respeito e respondi “Para, mãe. Lido com o machismo desde que nasci, e não vai ser a Europa que vai me chocar”. Estava redondamente enganada, o machismo me choca até hoje.
Quando cheguei na Irlanda decidi passar o rodo mesmo, saí com muitos caras e ninguém tinha nada a ver com isso. Mas para alguns europeus que eu conheci, gente jovem, eu era rodada até demais. Então eles perderam o respeito por mim. Bando de otários, obviamente. O problema é que a falta de respeito vai te quebrando por dentro, mesmo quando os otários não significam absolutamente nada para você. Só o ato do desrespeito te derruba.   
Sim, ainda é Tabu uma mulher viajar sozinha. Mas, por incrível que pareça, fui julgada mais por homens brasileiros por estar viajando só. Mais do que rodada, eu  era uma perdida para eles. Uma mulher com 30 e poucos anos, solteira, sem filhos e passando o rodo. Foi a primeira vez que senti o quão cruéis são os homens brasileiros aqui fora.
Os homens europeus são mais sutis em relação ao sexismo, mas não se engane porque existe sim violência doméstica as pencas aqui. Sexismo sutil ou não sutil, não importa porque a raíz de pensamento é a mesma. Só as atitudes diferem na intensidade.  

A grande questão é, a Europa é um continente antigo que conserva suas tradições. Então, as mudancas ocorrem aqui sim, mas são lentas. Por isso ainda não conseguimos sentir os efeitos em grande escala. Porém isso não justifica a violência praticada em todas as suas instâncias e itensidades.