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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Minha Vida de AuPair



Uma irlandesinha que adorava fazer arte.  



Ser AuPair na Europa é osso…duro de roer. Emocionante por um lado, mas extremamente solitário e puxado pelo outro.

Felizmente em lugares como Irlanda e Itália, as mães gostam muito de nós brasileiras pois somos cuidadosas e afetuosas. As mães européias são mais frias e não dão tanto colo, abraços e beijos quanto nós.

Penso que, inconscientemente, elas gostariam de demonstrar mais afeto, mas é muito difícil fazer isso visto que uma certa frieza é um traço cultural europeu. É também algo geracional  (passado de geração para geração). Se você não recebeu carinho na infância por nenhuma fonte de afeto, como pode oferecer algo que não lhe foi ensinado?

Ao contrário do Brasil, onde só a classe média a alta tem acesso a Aupair integral, é comum ter uma na Europa. A família pode nem ter dinheiro o suficiente para contratar uma, mas ela vai dar um jeito de ter uma ajuda de fora. Ou explorando as filipinas, como ocorre na Itália, ou oferecendo apenas um teto e alimento em troca do trabalho.

Infelizmente na Irlanda e na Itália o trabalho de Aupair não é reconhecido por lei.  Então cada familia te paga o que considera justo.

Porém, mesmo a Irlanda não legalizando o trabalho de Aupair, as famílias oferecem uma média de salário justa e quantidade de horas trabalhadas também justa. Claro que existem famílias, acredito que em todos os lugares, que vão tentar explorar a moça. Descobri por experiência própria que a gente deve dizer não a muitas coisas. Dizer não, por exemplo, a exploração da nossa mão de obra. 

Não sei quanto as outras alma rodadas, mas durante muito tempo me senti inferior na Europa, tanto que pensei que deveria aceitar ser explorada pois estava no que chamo de “casa dos outros”, ou seja,  em um outro país que estava me recebendo. Eu tinha era que agradecer por terem me deixado entrar. Pura bobagem! Se você está legal no país, tem todo o direito de exigir o respeito que lhe cabe. A gente tem que parar de se sentir inferior na Europa.  

Graças ao Universo esse complexo de inferioridade cultural já foi superado (há pouco tempo) e sempre quando posso aconselho as amigas aupairs a dizer NÃO.  Quando você resolve dizer não, pode ser que ouça a mãe da criança dizer: “mas a filipina lá cobra mais barato” ou” Infelizmente é o que posso pagar. É pegar ou largar”. Meninas, larguem! Existem muitas familias bacanas que vão te tratar muito bem, mas você precisa saber escolher.

No meu caso fui na loucura mesmo. Agarrei a primeira coisa que apareceu e dei sorte. Consegui pagar aluguel e me sustentar sem luxos trabalhando como Aupair "live out" de duas crianças pequenas.

Existem dois tipos de Aupair: live in (morando com a família) e live out (morando na sua própria casa).

Morar com a família, por incrível que pareça, é muito solitário. Eu particularmente prefiro morar no meu próprio lugar, onde posso receber os amigos e desfrutar a minha privacidade. Veja, você é uma pessoa estranha vivendo com uma família estranha e, mesmo que tenha um relacionamento fantástico com ela, isso não significa que você faz parte da mesma. É importante saber ser profissional e respeitar os momentos livres que eles desfrutam juntos. Por isso a família também deve respeitar o seu tempo livre.

É importante também dizer que Aupair é diferente de Babysitter. Aupair é a moca que trabalha horas fixas e cuida das crianças por muitas horas por semana. Babysitter é a moça contratada esporadicamente para olhar as crianças enquanto os pais estão fora. Costuma ser a noite.  

Mesmo eu sendo psicóloga e tendo trabalhado com criancas com autismo, nunca havia trocado uma fralda na vida ou acompanhado o desenvolvimento de uma criança comum de perto. Não uso a expressão  “criança normal” por questões ideológicas.

Entrei num desepero danado no início porque eu sabia que seria responsável por manter um bebê de 7 meses e uma criança de 2 anos de idade vivos durante 8 horas, todos os dias.

Tenha em mente que trabalhar como Aupair é basicamente isso: ser responsável pela sobrevivência dos pequenos na ausência da mãe. No início minha mente estava a mil, tanto que até rezei, coisa que não costumo fazer.

Ocupei o lugar de uma brasileira bacana que me ensinou a trocar fraldas e me contou as verdades do trabalho, sem me esconder nada. Não vá pensando que as Aupairs tem um comprometimento com a categoria alertando as colegas em relação a péssimas experiências com famílias problemáticas. Na Itália, por exemplo, entrei em uma roubada monstra porque confiei na colega que me treinou. Fui também enganada por uma brasileira na Itália que cuidava de um senhor idoso completamente maluco. Acabei a subistituindo por 10 dias e paguei pela minha ingenuidade vivendo o inferno na Terra.

Gostaria de alertar as meninas sobre duas coisas importantes. Primeira, desconfiem das Aupairs que estão tentando passar a vaga. Frequentemente a desculpa utilizada por elas é  que precisa voltar para casa por motivo de emergência familiar. Desconfie porque, convenhamos, trabalho bom a gente não larga. 

Claro que contratempos podem ocorrer e emergências familiares também. Minha primeira experiência como aupair por exemplo foi substituindo uma brasileira que não estava feliz no trabalho. Isso pode acontecer e é super normal, mas nunca confie em alguém que diga que trabalhar com aquela familia é incrível e que não há nenhum problema. Mentira. Quando o assunto é relacionamento entre seres humanos, problemas fazem parte do pacote.

Por gentileza, em vez de sair na loucura como eu que aceitei qualquer parada, seja uma Aupair consciente. Registre-se nos sites mais confiáveis e escolha com muito cuidado a família. Converse com muitas, seja sincera sempre e faça pelo menos uma ligação via Skype com toda a família reunida. O mais importante de tudo: confie na sua intuição sempre.

A sinceridade da nossa parte é muito importante pois se mentirmos para a mãe da criança, teremos que manter a mentira por tempo indeterminado e, um dia, a casa cai. Um exemplo:  se você fuma diga para a família a verdade. A maioria pede Aupair não fumante, mas há sempre um jeito de negociar. Se mesmo assim a família nao aceitar, parta para outra. Tem uma porção de gente precisando de uma Aupair.

Esse trabalho também é bem interessante para quem quer de fato aprender uma nova língua.  Você vai aprender a falar com as crianças e elas adoram ensinar. Tanto na Itália quanto na Irlanda as crianças nunca criticaram o meu inglês ou o meu italiano, super capengas na época. Essa foi uma das  partes fofas dessa experiência.

É um trabalho que requer esforço físico e psicológico. Cuidar de criança não é fácil e é por isso que as mães nos contratam.

Outra coisa, nunca mas nunca deixem uma crianca te agredir fisicamente ou te desrespeitar de qualquer forma. Fale com a mãe abertamente sobre qualquer incidente que te incomode e deixe claro que você está ali para cuidar da criança enquanto a mãe trabalha, e não para educá-la.

Você vai aprender a cuidar e a compreender esses pequenos seres. Crianças são incríveis, mas devoram tua alma quando resolvem causar. Não precisa ser psicóloga para ter jogo de cintura. Tente se abrir para adentrar o Universo da criança que agora faz parte da sua vida pois, se você assim o permitir, esta irá despertar a criança interior que estava adormecida em ti.

 
Mocinho irlandes que é puro encanto. 

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