Uma irlandesinha que adorava fazer arte. |
Ser AuPair na Europa é osso…duro de roer. Emocionante
por um lado, mas extremamente solitário e puxado pelo outro.
Felizmente
em lugares como Irlanda e Itália, as mães gostam muito de nós
brasileiras pois somos cuidadosas e afetuosas. As mães européias
são mais frias e não dão tanto colo, abraços e beijos quanto nós.
Penso que, inconscientemente, elas gostariam de demonstrar mais afeto, mas
é muito difícil fazer isso visto que uma certa frieza é um traço cultural
europeu. É também algo geracional (passado
de geração para geração). Se você não recebeu carinho na infância por nenhuma
fonte de afeto, como pode oferecer algo que não lhe foi ensinado?
Ao
contrário do Brasil, onde só a classe média a alta tem acesso a Aupair integral, é comum ter uma na Europa. A família pode nem ter dinheiro o
suficiente para contratar uma, mas ela vai dar um jeito de ter uma ajuda de fora. Ou
explorando as filipinas, como ocorre na Itália, ou oferecendo apenas um teto e
alimento em troca do trabalho.
Infelizmente na Irlanda e na Itália o trabalho de Aupair não é reconhecido por lei. Então cada familia te paga o que considera justo.
Porém, mesmo
a Irlanda não legalizando o trabalho de Aupair, as famílias oferecem uma média
de salário justa e quantidade de horas trabalhadas também justa. Claro que
existem famílias, acredito que em todos os lugares, que vão tentar explorar a
moça. Descobri por experiência própria que a gente deve dizer não a muitas
coisas. Dizer não, por exemplo, a exploração da nossa mão de obra.
Não sei
quanto as outras alma rodadas, mas durante muito tempo me senti inferior na
Europa, tanto que pensei que deveria aceitar ser explorada pois estava no
que chamo de “casa dos outros”, ou seja, em um outro país que estava me recebendo. Eu
tinha era que agradecer por terem me deixado entrar. Pura bobagem! Se você está
legal no país, tem todo o direito de exigir o respeito que lhe cabe. A gente
tem que parar de se sentir inferior na Europa.
Graças ao
Universo esse complexo de inferioridade cultural já foi superado (há pouco
tempo) e sempre quando posso aconselho as amigas aupairs a dizer NÃO. Quando você resolve dizer não, pode ser que
ouça a mãe da criança dizer: “mas a filipina lá cobra mais barato” ou”
Infelizmente é o que posso pagar. É pegar ou largar”. Meninas, larguem! Existem
muitas familias bacanas que vão te tratar muito bem, mas você precisa saber escolher.
No meu caso
fui na loucura mesmo. Agarrei a primeira coisa que apareceu e dei sorte.
Consegui pagar aluguel e me sustentar sem luxos trabalhando como Aupair "live
out" de duas crianças pequenas.
Existem
dois tipos de Aupair: live in (morando com a família) e live out (morando na
sua própria casa).
Morar com a
família, por incrível que pareça, é muito solitário. Eu particularmente prefiro
morar no meu próprio lugar, onde posso receber os amigos e desfrutar a minha
privacidade. Veja, você é uma pessoa estranha vivendo com uma família estranha
e, mesmo que tenha um relacionamento fantástico com ela, isso não
significa que você faz parte da mesma. É importante saber ser profissional e
respeitar os momentos livres que eles desfrutam juntos. Por isso a família também deve
respeitar o seu tempo livre.
É importante também dizer que Aupair é diferente de Babysitter. Aupair é a moca
que trabalha horas fixas e cuida das crianças por muitas horas por semana.
Babysitter é a moça contratada esporadicamente para olhar as crianças enquanto os pais estão fora.
Costuma ser a noite.
Mesmo eu
sendo psicóloga e tendo trabalhado com criancas com autismo, nunca havia
trocado uma fralda na vida ou acompanhado o desenvolvimento de uma criança
comum de perto. Não uso a expressão “criança
normal” por questões ideológicas.
Entrei num
desepero danado no início porque eu sabia que seria responsável por manter um
bebê de 7 meses e uma criança de 2 anos de idade vivos durante 8 horas, todos os
dias.
Tenha em
mente que trabalhar como Aupair é basicamente isso: ser responsável pela sobrevivência dos
pequenos na ausência da mãe. No início minha mente estava a mil, tanto que até
rezei, coisa que não costumo fazer.
Ocupei o
lugar de uma brasileira bacana que me ensinou a trocar fraldas e me contou as
verdades do trabalho, sem me esconder nada. Não vá pensando que as Aupairs tem
um comprometimento com a categoria alertando as colegas em relação a péssimas experiências com famílias problemáticas. Na Itália, por exemplo, entrei em uma roubada monstra porque confiei na colega que me treinou. Fui também enganada por uma brasileira na Itália que cuidava de um senhor idoso completamente maluco. Acabei a subistituindo por 10 dias e paguei pela minha ingenuidade vivendo
o inferno na Terra.
Gostaria de
alertar as meninas sobre duas coisas importantes. Primeira, desconfiem das Aupairs que estão tentando passar a vaga. Frequentemente a desculpa utilizada por elas é que precisa voltar para casa por motivo de emergência familiar.
Desconfie porque, convenhamos, trabalho bom a gente não larga.
Claro que
contratempos podem ocorrer e emergências familiares também. Minha primeira experiência como aupair por exemplo foi
substituindo uma brasileira que não estava feliz no trabalho. Isso pode
acontecer e é super normal, mas nunca confie em alguém que diga que trabalhar
com aquela familia é incrível e que não há nenhum problema. Mentira. Quando o
assunto é relacionamento entre seres humanos, problemas fazem parte do pacote.
Por
gentileza, em vez de sair na loucura como eu que aceitei qualquer parada, seja
uma Aupair consciente. Registre-se nos sites mais confiáveis e escolha com
muito cuidado a família. Converse com muitas, seja sincera sempre e faça pelo
menos uma ligação via Skype com toda a família reunida. O mais importante de tudo: confie na
sua intuição sempre.
A sinceridade
da nossa parte é muito importante pois se mentirmos para a mãe da criança, teremos que manter a mentira por tempo indeterminado e, um dia, a casa cai. Um
exemplo: se você fuma diga para a família a verdade. A maioria pede Aupair
não fumante, mas há sempre um jeito de negociar. Se mesmo assim a família nao aceitar, parta para outra. Tem
uma porção de gente precisando de uma Aupair.
Esse
trabalho também é bem interessante para quem quer de fato aprender uma nova
língua. Você vai aprender a falar com as
crianças e elas adoram ensinar. Tanto na Itália quanto na Irlanda as crianças
nunca criticaram o meu inglês ou o meu italiano, super capengas na época. Essa
foi uma das partes fofas dessa
experiência.
É um
trabalho que requer esforço físico e psicológico. Cuidar de criança não é
fácil e é por isso que as mães nos contratam.
Outra
coisa, nunca mas nunca deixem uma crianca te agredir fisicamente ou te
desrespeitar de qualquer forma. Fale com a mãe abertamente sobre qualquer
incidente que te incomode e deixe claro que você está ali para cuidar da
criança enquanto a mãe trabalha, e não para educá-la.
Você vai
aprender a cuidar e a compreender esses pequenos seres. Crianças são
incríveis, mas devoram tua alma quando resolvem causar. Não precisa ser psicóloga
para ter jogo de cintura. Tente se abrir para adentrar o Universo da
criança que agora faz parte da sua vida pois, se você assim o permitir, esta irá
despertar a criança interior que estava adormecida em ti.
Nenhum comentário:
Postar um comentário