Viver a realidade de um
país diferente é como tomar muitos tapas na cara, um após o outro, mas como
todo ser humano, você se adapta.
Desconfie de pessoas que escrevem que nunca tiveram problemas, e que sempre
tiveram sorte pois se adaptaram numa boa, sem esforço algum. São seres que vivem postando fotos com um
sorriso de orelha a orelha o tempo todo, mas que na verdade estão lutando de uma maneira surreal para sobreviver
no exterior.
No post anterior
mencionei alguns aspectos europeus negativos. Neste post vou explicar um pouco
sobre aqueles os quais considero serem os principais. Lembrando sempre que esse
é o meu ponto de vista.
Xenofobia
Por definição, xenofobia significa ”a aversão aos estrangeiros ou ao que vem do
estrangeiro, ao que é estranho ou menos comum.” A Europa em geral tem essa característica.
Voce pode sentir a xenofobia de maneira sutil, como na Irlanda, ou de maneira
escancarada como em Malta e na Itália.
Infelizmente, em Malta,
alguns nativos fomentam o discurso de ódio em páginas do Facebook, expressam
seu preconceito velado em conversas numa mesa de bar com você, que é expatriado, e também na maneira
como te olham quando você diz
que nasceu na América do Sul. Mas a maior aversão
que alguns malteses sentem, e quando digo alguns me refiro a uma parte
expressiva da população, é
em relação aos refugiados de
Guerra e as pessoas que emigram da África buscando melhores
oportunidades. É algo cruel. Presenciei uma vez, no ônibus,
um motorista fechando as portas para uma mulher que usava o hijad (véu muculmano)
e seu bebê que estava no
carrinho enquando esta estava tantando descer no ponto. O motorista
simplesmente fechou a porta enquanto ela estava descendo, deixando a crianca em
seu carrinho presa. Não
contente, ele repetiu o procedimento e quando a mulher, com razão, comecou a gritar com ele, completamente
revoltada, ele simplesmente se virou e disse “get out, now!”. Chocante, não?
Por outro lado, na
Italia e na Irlanda, a xenofobia é expressada na forma de superioridade.
Irlandeses e italianos tem uma postura de superioridade em relação aos estrangeiros não europeus e isso é histórico. Nao se
esquecam que os europeus são
ainda acostumados a serem servidos por povos considerados inferiores por eles. Vivi
isso na pele trabalhando como au pair na Itália e Irlanda. Mesmo tendo curso
superior em Psicologia e experiência na área de
Desenvolvimento Infantil, eu fui explorada e tratada como um lixo de luxo: uma
serva com atributos.
Higiene
Sim, como boa
brasileira sinto falta da limpeza impecável que fazemos em nossas casas. Mesmo
que você decida alugar uma
casa em boas condições, vai se
deparar com sujeiras que estão
por lá há anos. As casas tem uma certa aparência
de encardidas. O mofo tambem é presente, mesmo nas casas com calefação. Sempre morei em casas e
apartamentos com alguma parede mofada. De repente não
dei sorte. O grande desafio é dividir casa com outros europeus. As panelas
nunca estão limpas o
suficiente, aliás nenhum utensílio de cozinha na realidade. Inúmeras vezes tive
que comprar meus próprios utensílios para garantir a higiene dos mesmos.
Sobre o hábito de tomar
banho, nem preciso dizer, não é?
Sexismo
Antes de decidir me mudar
para a Europa, minha mãe,
abismada, me perguntou: “Minha filha, como uma pessoa tão feminista quanto você decidiu morar num dos continentes mais
sexistas do mundo?”. Pergunta pertinente naquele momento. Pensei a respeito e
respondi “Para, mãe. Lido com o
machismo desde que nasci, e não vai ser a Europa que vai me chocar”. Estava
redondamente enganada, o machismo me choca até hoje.
Quando cheguei na
Irlanda decidi passar o rodo mesmo, saí com muitos caras e ninguém tinha nada a
ver com isso. Mas para alguns europeus que eu conheci, gente jovem, eu era
rodada até demais. Então
eles perderam o respeito por mim. Bando de otários, obviamente. O problema é
que a falta de respeito vai te quebrando por dentro, mesmo quando os otários não significam absolutamente nada para você. Só o ato do desrespeito te derruba.
Sim, ainda é Tabu uma
mulher viajar sozinha. Mas, por incrível que pareça,
fui julgada mais por homens brasileiros por estar viajando só. Mais do que
rodada, eu era uma perdida para eles.
Uma mulher com 30 e poucos anos, solteira, sem filhos e passando o rodo. Foi a
primeira vez que senti o quão
cruéis são os homens
brasileiros aqui fora.
Os homens europeus são mais sutis em relação ao sexismo, mas não se engane porque existe sim violência doméstica as pencas aqui. Sexismo
sutil ou não sutil, não importa porque a raíz de pensamento é a
mesma. Só as atitudes diferem na intensidade.
A grande questão é, a Europa é um continente antigo que
conserva suas tradições. Então, as mudancas ocorrem aqui sim, mas são lentas. Por isso ainda não conseguimos sentir os efeitos em grande
escala. Porém isso não justifica a violência praticada em todas as suas instâncias e itensidades.
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