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sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Welcome to the Jungle - Bem Vindos a Selva

Viver a realidade de um país diferente é como tomar muitos tapas na cara, um após o outro, mas como todo ser humano, você se adapta. Desconfie de pessoas que escrevem que nunca tiveram problemas, e que sempre tiveram sorte pois se adaptaram numa boa, sem esforço algum. São seres que vivem postando fotos com um sorriso de orelha a orelha o tempo todo, mas que na verdade estão lutando de uma maneira surreal para sobreviver no exterior.

No post anterior mencionei alguns aspectos europeus negativos. Neste post vou explicar um pouco sobre aqueles os quais considero serem os principais. Lembrando sempre que esse é o meu ponto de vista.  



Essa foto foi postada por um perfil fictício no Grupo "Expats Malta" (Expatriados em Malta) com a seguinte legenda: "O melhor comentário ganha!!!". Dezenas de pessoas participaram da "brincadeira" e a consideraram muito engraçada. Lembrando que este grupo está cheio de malteses. Belo exemplo prático de Xenofobia em Malta.



Xenofobia

Por definição, xenofobia significa ”a aversão aos estrangeiros ou ao que vem do estrangeiro, ao que é estranho ou menos comum.” A Europa em geral tem essa característica. Voce pode sentir a xenofobia de maneira sutil, como na Irlanda, ou de maneira escancarada como em Malta e na Itália.
Infelizmente, em Malta, alguns nativos fomentam o discurso de ódio em páginas do Facebook, expressam seu preconceito velado em conversas numa mesa de bar com você, que é expatriado, e também na maneira como te olham quando você diz que nasceu na América do Sul. Mas a maior aversão que alguns malteses sentem, e quando digo alguns me refiro a uma parte expressiva da população, é em relação aos refugiados de Guerra e as pessoas que emigram da África buscando melhores oportunidades. É algo cruel. Presenciei uma vez, no ônibus, um motorista fechando as portas para uma mulher que usava o hijad (véu muculmano) e seu bebê que estava no carrinho enquando esta estava tantando descer no ponto. O motorista simplesmente fechou a porta enquanto ela estava descendo, deixando a crianca em seu carrinho presa. Não contente, ele repetiu o procedimento e quando a mulher, com razão, comecou a gritar com ele, completamente revoltada, ele simplesmente se virou e disse “get out, now!”. Chocante, não?
Por outro lado, na Italia e na Irlanda, a xenofobia é expressada na forma de superioridade. Irlandeses e italianos tem uma postura de superioridade em relação aos estrangeiros não europeus e isso é histórico. Nao se esquecam que os europeus são ainda acostumados a serem servidos por povos considerados inferiores por eles. Vivi isso na pele trabalhando como au pair na Itália e Irlanda. Mesmo tendo curso superior em Psicologia e experiência na área de Desenvolvimento Infantil, eu fui explorada e tratada como um lixo de luxo: uma serva com atributos.

Higiene

Sim, como boa brasileira sinto falta da limpeza impecável que fazemos em nossas casas. Mesmo que você decida alugar uma casa em boas condições, vai se deparar com sujeiras que estão por lá há anos. As casas tem uma certa aparência de encardidas. O mofo tambem é presente, mesmo nas casas com calefação. Sempre morei em casas e apartamentos com alguma parede mofada. De repente não dei sorte. O grande desafio é dividir casa com outros europeus. As panelas nunca estão limpas o suficiente, aliás nenhum utensílio de cozinha na realidade. Inúmeras vezes tive que comprar meus próprios utensílios para garantir a higiene dos mesmos.
Sobre o hábito de tomar banho, nem preciso dizer, não é?

Sexismo

Antes de decidir me mudar para a Europa, minha mãe, abismada, me perguntou: “Minha filha, como uma pessoa tão feminista quanto você decidiu morar num dos continentes mais sexistas do mundo?”. Pergunta pertinente naquele momento. Pensei a respeito e respondi “Para, mãe. Lido com o machismo desde que nasci, e não vai ser a Europa que vai me chocar”. Estava redondamente enganada, o machismo me choca até hoje.
Quando cheguei na Irlanda decidi passar o rodo mesmo, saí com muitos caras e ninguém tinha nada a ver com isso. Mas para alguns europeus que eu conheci, gente jovem, eu era rodada até demais. Então eles perderam o respeito por mim. Bando de otários, obviamente. O problema é que a falta de respeito vai te quebrando por dentro, mesmo quando os otários não significam absolutamente nada para você. Só o ato do desrespeito te derruba.   
Sim, ainda é Tabu uma mulher viajar sozinha. Mas, por incrível que pareça, fui julgada mais por homens brasileiros por estar viajando só. Mais do que rodada, eu  era uma perdida para eles. Uma mulher com 30 e poucos anos, solteira, sem filhos e passando o rodo. Foi a primeira vez que senti o quão cruéis são os homens brasileiros aqui fora.
Os homens europeus são mais sutis em relação ao sexismo, mas não se engane porque existe sim violência doméstica as pencas aqui. Sexismo sutil ou não sutil, não importa porque a raíz de pensamento é a mesma. Só as atitudes diferem na intensidade.  

A grande questão é, a Europa é um continente antigo que conserva suas tradições. Então, as mudancas ocorrem aqui sim, mas são lentas. Por isso ainda não conseguimos sentir os efeitos em grande escala. Porém isso não justifica a violência praticada em todas as suas instâncias e itensidades. 



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